A coleção do denário de Galba regressa a Portugal

A coleção de moedas romanas roubadas entre 1959 e 1985 do santuário de Nossa Senhora da Piedade, no concelho de Alijó (Vila Real), encontradas em Espanha e recuperadas pela Polícia Judiciária em 2016, foram entregues ao Estado Português no dia 22 de Janeiro 2018. Entre elas está o denário cunhado durante o governo do imperador Romano Galba.

Um pote de barro que continha 63 moedas romanas foi encontrado em Sanfins do Douro no ano 1958 por um grupo de agricultores que procedia à limpeza de um terreno agrícola junto ao santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Alijó. Terão levado as moedas para o património da santa, ao cuidado da Comissão de Festas que as expôs ao público na Casa dos Milagres de Sanfins.
Manuel Alves Plácido, padre que passou parte da vida atento à arqueologia local, estudou a coleção e revelou a sua existência, publicando artigos no jornal A Voz de Trás-os-Montes em Maio de 1959. Os artigos, lidos por Rui Centeno, historiador com doutoramento sobre a circulação monetária romana no Noroeste peninsular até ao final do século II, fizeram com que, em 1983, se tenha deslocado até Sanfins para estudar o tesouro. Centeno reparou que das 63 moedas descritas por Manuel Alves Plácido, seis tinham desaparecido e dois anos mais tarde, o resto da coleção seguiria pelo mesmo destino. No meio desta coleção de moedas romanas destaca-se o denário de Galba, cunhado no ano 68-69 d.C., ano marcado por guerras civis e pelo governo de quatro imperadores. Seria uma moeda destinada a ser fundida e cunhada de novo e é um mistério a razão pela qual escapou a esse acaso. Exemplar único, o denário de Galba não está referenciado em nenhuma obra fundamental sobre numismática ou sobre emissão ou circulação monetária de Roma.

A investigação do assalto ficou responsável à GNR de Alijó que encerrou a ocorrência por falta de evidências para continuar a investigação e o caso foi caindo no esquecimento.

Esperou-se até 2016 para que fossem encontradas referências aos denários de Sanfins do Douro nas atas de um congresso Numismático realizado 3 anos antes em Cádis, no Sul de Espanha. Rui Centeno reconheceu que as peças em questão faziam parte do tesouro e que seriam postas em leilão daí a três semanas, com um preço-base de licitação fixado em sete mil euros. Centeno preparou um dossier sobre as moedas e pediu a intervenção da Polícia Judiciária. Estabelecido o contacto com agentes policiais espanhóis, “um dia depois, a moeda tinha sido recuperada” conta Pedro Silva, inspetor responsável pela investigação. As peças, devolvidas no dia 22 de Janeiro de 2018, foram entregues ao Ministério Público e hoje estão depositadas no Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, em Braga. Isabel Silva, uma das responsáveis pelo Museu de Arqueologia, em entrevista à agência Lusa, avançou que o denário, tal como o resto da coleção que foi recuperada, poderá ser visto pelo público ao longo deste ano de 2018.

 

Foto: Manuel Araújo/Lusa
Fonte: Rádio Renascença e jornal Publico.