Padrões de poder. Moedas de al-Andalus (séculos VIII-XV) é a exposição temporária inaugural do Museu Casa da Moeda. Trata-se da mais completa mostra sobre moedas muçulmanas realizada até agora em Portugal.
Esta exposição apresenta ao público um total de cento e quarenta e oito moedas dos séculos VIII a XV, representativas das diversas fases da história muçulmana no espaço ibérico. Nela se encontra patente uma seleção de moedas de ouro, prata e cobre, enquadráveis em diferentes séries tipológicas, mandadas cunhar pelas autoridades que construíram a civilização de al-Andalus.
A cunhagem da moeda de ouro, o dinār, era uma prerrogativa do califa. As mais antigas séries a circular no espaço ibérico, de inícios do século VIII, mostram letreiros latinos, árabes ou mesmo duplos, todos de conteúdo muçulmano. São o testemunho de um tempo marcado pelo processo de islamização e arabização das sociedades ibéricas, maioritariamente de origem cristã e judia.
A cunhagem da moeda de ouro foi recuperada nos inícios do século X, data em que o primeiro califa de Córdova, ‘Abd al-Raḥmān III, chamou a si a prerrogativa de emissão em ouro, reservada à autoridade máxima do islão.
Após o colapso do califado de Córdova, nos inícios do século XI, vários foram os emires que deram continuidade à cunhagem em ouro. Uma das moedas mais fortes foi batida por al-Mu’tamid, governante da taifa de Sevilha.
Nos séculos XII e XIII surgiu o duplo dinār, uma moeda esteticamente próxima da perfeição mandada cunhar pela dinastia almóada. A excelência desta moeda motivou a sua rápida imitação pelos reis cristãos peninsulares.
Ao longo de cerca de oitocentos anos, o dinār, considerado um instrumento de propaganda, transformou-se num importante padrão de prestígio, cunhado pelos califas que procuravam reforçar as suas aspirações políticas.
A moeda de prata, o dirham, tinha a vantagem de ser mais acessível à população comum do que a moeda de ouro. Todos os emires que governaram al-Andalus nos séculos VIII a X ordenaram a sua cunhagem.
Nos séculos XI a XIII, sob o impulso das dinastias almorávida e almóada, teve início a cunhagem do qīrāṭ e do dirham de módulo quadrado. Esta última moeda foi produzida em grande escala, e corresponde ainda hoje a uma das tipologias mais frequentes nos contextos arqueológicos portugueses e espanhóis.
À semelhança do dinār, o dirham era anicónico, isto é, não continha imagens. Para além da data da cunhagem e do nome da autoridade responsável pela emissão, os letreiros desta moeda incluíam fórmulas de fé alusivas à unicidade de Allāh e à função de Muḥammad como Seu último profeta.
Devido ao seu baixo valor, a moeda de cobre, o fals, era uma das peças mais acessíveis à população comum. A cunhagem desta moeda teve como principal objetivo alimentar as trocas básicas do quotidiano.
A visita à exposição é complementada por uma apelativa brochura contendo textos sobre a moeda muçulmana, com fotografias e descrição de todas as peças expostas. Numa linguagem ao mesmo tempo clara e rigorosa, esta brochura apresenta o essencial daquilo que o visitante deve saber para compreender a importância das moedas expostas como padrões de poder.
Para além das moedas que fazem parte do acervo do Museu Casa da Moeda, esta exposição conta com três peças cerâmicas cedidas pelo Museu Nacional de Arqueologia. Estas peças foram recolhidas em contextos arqueológicos portugueses datáveis da época muçulmana, e ajudam a ilustrar momentos do quotidiano das populações que utilizaram as moedas aqui expostas.